terça-feira, janeiro 30, 2007

Crédito Consignado

Saiu na imprensa, há alguns dias atrás, que um órgão do governo do estado de São Paulo, governado há 12 anos pelo PSDB, doou dinheiro – público, obviamente – para o instituto de Fernando Henrique Cardoso.

Alguns se agitaram. Como se essa notícia pudesse ser um troco – ou parte de um troco – diante dos ataques sofridos pelo governo Lula nesses últimos muitos meses.

Ao mesmo tempo, e como era de se esperar, a nossa (pequena) grande imprensa – partidária como sempre – não fez nenhum grande alarde. Assim como é de se esperar que o fará – se o ex-presidente em questão, no futuro, for um certo ex-operário.

Mas vamos pensar nos que se agitaram. Houve, da parte desses, certa balbúrdia denuncista. Vingativa, quer responder na mesma moeda pelo que sofreram. Esquecem-se, porém, que assim só estão reforçando os velhos métodos conservadores, quando o que mais nos interessa é subverter esses próprios métodos, fazê-los perder força, esvaziar o moralismo.

Então paremos para pensar. FHC é um ex-presidente. Sua história não merece ser registrada? E quem pagará por esse registro?

Por partes.

Sim, a história de FHC não só merece, mas precisa ser registrada. Não pelo seu valor biográfico, que deve beirar a insignificância – a vida medíocre de um sociólogo almofadinha que nunca foi brilhante, cujos escritos são óbvios e pedantes; e que, após uma trajetória política sem grandes destaques (a não ser a ridícula derrota eleitoral para Jânio Quadros), moldada por uma suposta liderança, chega convenientemente à presidência da República, sustentado por uma campanha esmagadora que agregava toda os setores de elite e classe média do país, sem exceção, ao mesmo tempo em que encontrava um povão traumatizado por um impeachment e amaciado pelo plano Real, o que tornou a tarefa da eleição um mamão com açúcar.

A representatividade dessa eleição, e posterior reeleição, de FHC não pode ser esquecida. Principalmente, para que não cometamos um erro desse tipo novamente. Para que nunca mais elejamos um presidente tão elitista, hipócrita, vaidoso e egocêntrico, que tenta a todo custo se colocar no lugar de grande estadista. O que está tão longe de ser verdade – a ponto de ser opinião, inclusive, de muitos de seus correligionários.

E quem deveria bancar? Nada mais justo que aqueles que o elegeram: o povo brasileiro. Sim, dinheiro público (não sem limites, é claro). Trata-se de uma perda necessária. Sim, para fazer uma espécie de museuzinho com objetos pessoais e anotações de trabalho de Fernando Henrique. Um registro, portanto, extremamente positivista, ou seja, de enorme pobreza material. Um outro registro, que não desse tipo, é impossível, inconcebível. É isso que nosso ex-presidente merece. Que o tenha. O registro mais valioso, que é o que se instala no coração dos homens, isso ele não vai conseguir nunca.

Alguém poderia argumentar que o instituto de Fernando Henrique é um espaço totalmente privado e não disponível para o público, mas isso é outra questão – e certamente irrelevante. Antes de tudo, nunca ouvi falar de grandes filas de espera para que seja visitado. Que seja aberto à visitação apenas no dia em que uma grande multidão exija, ferozmente, nas ágoras, sua abertura.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

PAC

Sobre o Programa de Aceleração do Crescimento, as manifestações de amor e ódio que despertou, os excessos e as faltas, a indignação e a resignação com a falta de colaboração da diretoria do Banco Central - lembremos Guimarães Rosa:

Tem horas em que, de repente, o mundo vira pequenininho, mas noutro de-repente ele já torna a ser demais de grande, outra vez. A gente deve de esperar o terceiro pensamento.

Paciência...

Eu também queria a cabeça do Meirelles, mas fazer o quê? Não tenho como avaliar as condições políticas e institucionais, o que está ou não dentro da margem de manobra do governo, quais são as condições para governar, tenho que esperar para ver. Lembram de 2005? 2006? Quantas vezes tentaram derrubar o governo...

Burrice mesmo é essa eleição grotesca na Câmara. Vai ser burro assim lá no PT de São Paulo.