A próxima luta
Acabaram as eleições. Vencemos. E agora?
É a mesma pergunta de 2002 e, para mim, tem a mesma resposta: não esperemos coisas mirabolantes. Lembremos que psicanalisar, educar e governar são tarefas impossíveis, e que por isso mesmo devemos tratar de cumpri-las, avançando nas brechas, tratando de construir a possibilidade do impossível.
Nem preciso dizer que não sou da turma que ficou decepcionada com o governo de Lula. Quem esperava grandes transformações a partir de 2003 era, no mínimo, ingênuo, e ingenuidade não é coisa que podemos nos dar ao luxo de ter nessas questões.
Agora podemos colocar a cabeça no lugar e desanuviar nossos comentários, deslocando-nos da questão eleitoral e político-institucional, que como bem lembrou grande amigo, é por demais obsessiva em seu exercício discursivo – acredito que era uma tarefa que tínhamos que cumprir, correndo o risco de sermos repetitivos, chatos, superficiais até. Havia muita coisa em jogo.
A reiterada crítica ao papel da mídia nessas eleições fazia parte desse jogo; a partir de agora, nesse campo, temos que cobrar algo mais substancial, mais importante: a democratização efetiva, na medida do possível, das esferas de exercício do poder e, em especial, do poder da palavra. Democratização da cultura, tema espinhoso, democratização dos meios de comunicação de massa, democratização das instâncias de poder que decidem as políticas públicas, os recursos e – por que não? – o aprofundamento da democratização da pobreza material, a distribuição mais justa dessa pobreza.
Passamos por um processo interessante no Brasil, independentemente de seu resultado: a elite burguesa (por que usar outro nome?) não conseguiu impedir que Lula fosse conduzido novamente ao centro do poder de Estado. Isso não é pouco, e devemos cobrar que o fato seja levado em conta na definição das políticas desse nosso segundo governo.
A esquerda está, a meu ver, preparada para cobrar e para compreender as dificuldades, as impossibilidades, para ser "realista".
Vamos ver o que conseguiremos fazer até 2010. E nesse processo, não podemos esquecer as batalhas travadas fora do âmbito do Estado, aqui, nas nossas atuações concretas, nos nossos embates. O exercício da política não é apenas o exercício do poder estatal – bem sabemos que o Estado moderno nasce como braço de legitimação do poder do Capital. Nosso envolvimento, nessas eleições e em outras, partem do pressuposto de que devemos, também, disputar as posições de poder de Estado, e que isso não é mero detalhe – há possibilidades concretas de avanço nesse sentido, bastando dizer que, depois de quatro anos, 40 milhões de pessoas comem melhor. Isso não é pouco. Um processo de transformação é um processo de transformação, e ponto. Processo.
Continuemos a luta, nos consultórios, hospitais, orquestras, escolas, empresas, maracanãs, bares, construções - na rua! - e, se me permitem dizer, também na internet. E lembremos de cobrar de Lula o que ele pode nos dar, e de criticá-lo quando fizer merda. Não podemos nos entorpecer com uma coisa ou outra – esse é o nosso compromisso.
3 Comments:
Muito bom. Perfeito!
AFUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO
por Roméro da Costa Machado, escritor.
Eu era Auditor da Rede Globo, quando detectamos uma quantidade enorme de irregularidades na Fundação Roberto Marinho, as quais eu não entendia como não tinham sido vistas até então pela Curadoria de Fundações. Em função da quantidade de irregularidades encontradas e dos bons resultado desta auditoria, fui convidado para ser Controller da Fundação Roberto Marinho e designado para corrigir, acertar e acabar com as irregularidades até então existentes. Entretanto, num espaço de tempo muito curto pude verificar que a minha contratação não passava de uma cortina de fumaça e um grande jogo de cena, pois na realidade "eles" não queriam consertar nada. Ao contrário, queriam continuar a fazer o que sempre fizeram, só que desta feita usando um Auditor, de reputação incontestável, como escudo. E para piorar não só todas as irregularidades até então descobertas continuavam a ser praticadas como pude constatar que as irregularidades não descobertas pela auditoria - descobertas posteriormente - eram muito piores do que as que até então tinham sido descobertas.
Não tive dúvidas em ir ao Secretário Geral da Fundação, João Carlos Magaldi (a autoridade máxima da entidade) e pedir para sair da Fundação. Época em que retornei para a auditoria da Rede Globo e empreendi uma terrível e implacável nova auditoria na Fundação - aí já com dados novos e muito mais contundentes do que a primeira auditoria.
O resultado desta nova auditoria foi devastador, com demissões em massa, de simples funcionários a diretores da Fundação. Mas, no entanto, apesar do aparente bom resultado, eu estava terrivelmente descontente, pois muitos diretores graduados da Globo não tinham sido atingidos nas demissões, embora fosse mais do que comprovado que eles transacionavam diretamente com notas (frias) com a Fundação.
As principais irregularidades encontradas nesta nova auditoria foram: Compra de Notas Fiscais; Notas Frias (Frias-Frias e Frias-"Quentes"); Notas de diferentes empresas (várias) escritas pela mesma pessoa; Notas Fiscais falsas (montadas a partir de cartões de visitas e impressos de empresas que sequer sabiam que estavam transacionando com a Fundação); Caixa Dois; Equipamentos comprados com notas de serviço; Despesas de viagens falsificadas; Funcionários da Globo (principalmente diretores) recebendo através de notas frias; Empresas da Globo faturando e cobrando "facilidades" da Fundação; Contratação de parentes; Sumiço de ativo fixo (principalmente fitas de vídeo). Isto, sem contar o "assalto" aos cofres do governo (Ministério da Educação) na obtenção de verbas a "fundo perdido" (dinheiro grátis, obtido na "bacia das almas") para fazer programas "educativos" medíocres da Fundação, que segundo opinião de um diretor da própria Fundação, o telecurso era o curso mais caro do mundo, pois se o dinheiro empregado pelo governo na Fundação fosse distribuído diretamente aos alunos necessitados praticamente acabaria o curso elementar no Brasil.
Nesse meio tempo, diante da grande repercussão da auditoria, fui chamado pelo Vice-Presidente José Bonifácio de Oliveira (O Boni) para assessorá-lo pessoalmente, com uma proposta super vantajosa, a qual aceitei sem pestanejar. Mas, em muito pouco tempo não tardou que eu descobrisse que nós dois (Eu e Boni) não teríamos muito sucesso juntos, isto porque ele mesmo, Boni, também era um dos que tinham notas enfiadas na Fundação, sem falar de sua porção "bandido" com ligações com o submundo do crime (bicheiros, gângsteres, etc.) onde o grande "capo" da criminalidade, Castor de Andrade, era simplesmente "irmãozinho" do Boni.
Isso foi mais do que suficiente para se tornar um ponto intransponível e incontornável no nosso relacionamento. Tanto que nossas brigas tornaram-se tão inevitáveis até que chegamos ao insustentável, a ponto de dizermos coisas muito desagradáveis um ao outro, culminando com a minha saída voluntária da Globo, onde eu sequer fui buscar o que tinha direito, mas me dando o direito de contar tudo em livro ("Afundação Roberto Marinho", hoje na 12ª Edição). E não sem antes dizer ao Boni que cedo ou tarde os filhos do Roberto Marinho iriam se desfazer dele, como um pesado e incômodo fardo, e que ele só não seria demitido sumariamente naquele momento pelo tanto que ele tinha de ações, participações, e o quanto sabia e estava envolvido nas operações "sigilosas" da Rede Globo.
QUEM NÃO DIRIA?
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1352138-EI6578,00.html
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