segunda-feira, dezembro 20, 2010

Sobre machismo e conservadorismo

Escrevo isso aqui com a poeira ainda bastante alta. O pau tá comendo, os paus tão brigando, a porrada é fálica, as chicotadas cavalares. Homens e mulheres no cacete, onde o tamanho é sim documento e não tem nada a ver com dotações físicas, mas de linguagem. É na linguagem, verbovisual, que o pau vai à mesa. As opressoras identificações históricas determinam os impactos, mas nunca totalmente - as fissuras onde a diferença de ser homem ou mulher é ínfima.

Acompanho de longe, a princípio surpreso com o nível de animosidade, ansioso também para meter o bedelho, mas sentindo também que o caso é de delicado jogo de hostilidades, e não tão imprevisível assim. Demorou mais de hora para relembrar que a agregação em torno de uma candidatura presidencial está longe, muito longe, de significar um oceano de concordâncias e amenidades. Isso sim seria muito estranho.

Somos todos muito conservadores, obsessivos mesmo, e graves. Nisso se inclui o machismo, ainda tão cavalar e lesivo - para mulheres e homens: as repercussões é que são diferentes. E também é chover no molhado dizer que não só os homens são machistas - as mulheres também, e também muito. O machismo desenha historicamente papéis muito tristes e desagradáveis para homens e mulheres: os bêbados agressores, as submissas, dentre outros. Figuras oprimidas por identificações totalitárias e suas origens parentais. (Sim, estou colocando agressor também como oprimido, diante da merda que fazem/em que se colocam).

O foda disso tudo é que todos somos atingidos, sejamos malas ou gente boa, de esquerda ou de direita, jornalistas ou marceneiros, ricos ou pobres. Claro que em escalas variáveis, já que tem gente que abusa de ser conservador babaca a vida inteira e tem gente que consegue, de forma genial, se desviar com maestria das incessantes rajadas de escrotidão que nos são dirigidas todo santo dia, e pelos santos mais diversos, e por nós mesmos.

Nessa complexa economia de conservadorismo e emancipação que nos afeta, em níveis macro e micro, público e privado, os deslizes são muitos, os recuos, as dúvidas, os medos, os pavores, os pânicos, as angústias, uma pá de processos afetivos pra lá de complicados, ambíguos, de difícil solução. Mas também há muito gozo, satisfação, diversão e humor, já que ninguém é de ferro. Sempre lembrando que há satisfações extremamente alienadas, assim como angústias que deslocam, que mudam, que mexem; assim como destruições inovadoras e construções reacionárias: é urgente acabar com o moralismo do construtivismo demagógico! Haja Walter Benjamin!

Um deslize público de machismo pode muito estar longe de significar uma adesão à extrema direita. Ao mesmo tempo, precisa de uma resposta à altura. E essa resposta virá com o fel da luta, com a verve de raiva de tradições sangrentas, portanto com exagero e desmesura. Não existe bom senso sem fantasmas, as cicatrizes não se construíram sem dor. E aí o pau come mesmo, os assuntos delicados despertam os mais obscuros impulsos. Mas uma hora, espera-se, a poeira baixa e os cacos são reorganizados. Faz parte. Assim como faz parte não haver redenções completas e retratações imediatas: é preciso medir a elaboração pela desistência, pela vergonha, pelo enrolamento que as interrogações promovem, ao longo de certo tempo.

Tratar o conservadorismo é tarefa árdua e exige muita paciência, já que, para fixações afetivas tão ferrenhas, de quase nada adianta o convencimento selvagem e a avidez demonstrativa: muitas vezes só promovem acirramento mesquinho e desgaste alienado (daqueles que vêm sem nenhum alívio). Isso também serve para palavras como estas, que correm sério risco de cair na frieza... mas talvez ajude em alguma coisa apresentar alguns termos diferentes à discussão.

3 Comments:

Anonymous fal said...

Você escreve bem como o diabo.

5:46 PM  
Blogger Gustavo Rabello said...

"Convencer é infrutífero"

10:39 PM  
Anonymous Anônimo said...

PQ PAROU DE ESCREVER? EU GOSTAVA DE LER...

10:24 PM  

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