Crédito Consignado
Saiu na imprensa, há alguns dias atrás, que um órgão do governo do estado de São Paulo, governado há 12 anos pelo PSDB, doou dinheiro – público, obviamente – para o instituto de Fernando Henrique Cardoso.
Alguns se agitaram. Como se essa notícia pudesse ser um troco – ou parte de um troco – diante dos ataques sofridos pelo governo Lula nesses últimos muitos meses.
Ao mesmo tempo, e como era de se esperar, a nossa (pequena) grande imprensa – partidária como sempre – não fez nenhum grande alarde. Assim como é de se esperar que o fará – se o ex-presidente em questão, no futuro, for um certo ex-operário.
Mas vamos pensar nos que se agitaram. Houve, da parte desses, certa balbúrdia denuncista. Vingativa, quer responder na mesma moeda pelo que sofreram. Esquecem-se, porém, que assim só estão reforçando os velhos métodos conservadores, quando o que mais nos interessa é subverter esses próprios métodos, fazê-los perder força, esvaziar o moralismo.
Então paremos para pensar. FHC é um ex-presidente. Sua história não merece ser registrada? E quem pagará por esse registro?
Por partes.
Sim, a história de FHC não só merece, mas precisa ser registrada. Não pelo seu valor biográfico, que deve beirar a insignificância – a vida medíocre de um sociólogo almofadinha que nunca foi brilhante, cujos escritos são óbvios e pedantes; e que, após uma trajetória política sem grandes destaques (a não ser a ridícula derrota eleitoral para Jânio Quadros), moldada por uma suposta liderança, chega convenientemente à presidência da República, sustentado por uma campanha esmagadora que agregava toda os setores de elite e classe média do país, sem exceção, ao mesmo tempo em que encontrava um povão traumatizado por um impeachment e amaciado pelo plano Real, o que tornou a tarefa da eleição um mamão com açúcar.
A representatividade dessa eleição, e posterior reeleição, de FHC não pode ser esquecida. Principalmente, para que não cometamos um erro desse tipo novamente. Para que nunca mais elejamos um presidente tão elitista, hipócrita, vaidoso e egocêntrico, que tenta a todo custo se colocar no lugar de grande estadista. O que está tão longe de ser verdade – a ponto de ser opinião, inclusive, de muitos de seus correligionários.
E quem deveria bancar? Nada mais justo que aqueles que o elegeram: o povo brasileiro. Sim, dinheiro público (não sem limites, é claro). Trata-se de uma perda necessária. Sim, para fazer uma espécie de museuzinho com objetos pessoais e anotações de trabalho de Fernando Henrique. Um registro, portanto, extremamente positivista, ou seja, de enorme pobreza material. Um outro registro, que não desse tipo, é impossível, inconcebível. É isso que nosso ex-presidente merece. Que o tenha. O registro mais valioso, que é o que se instala no coração dos homens, isso ele não vai conseguir nunca.
Alguém poderia argumentar que o instituto de Fernando Henrique é um espaço totalmente privado e não disponível para o público, mas isso é outra questão – e certamente irrelevante. Antes de tudo, nunca ouvi falar de grandes filas de espera para que seja visitado. Que seja aberto à visitação apenas no dia em que uma grande multidão exija, ferozmente, nas ágoras, sua abertura.
Alguns se agitaram. Como se essa notícia pudesse ser um troco – ou parte de um troco – diante dos ataques sofridos pelo governo Lula nesses últimos muitos meses.
Ao mesmo tempo, e como era de se esperar, a nossa (pequena) grande imprensa – partidária como sempre – não fez nenhum grande alarde. Assim como é de se esperar que o fará – se o ex-presidente em questão, no futuro, for um certo ex-operário.
Mas vamos pensar nos que se agitaram. Houve, da parte desses, certa balbúrdia denuncista. Vingativa, quer responder na mesma moeda pelo que sofreram. Esquecem-se, porém, que assim só estão reforçando os velhos métodos conservadores, quando o que mais nos interessa é subverter esses próprios métodos, fazê-los perder força, esvaziar o moralismo.
Então paremos para pensar. FHC é um ex-presidente. Sua história não merece ser registrada? E quem pagará por esse registro?
Por partes.
Sim, a história de FHC não só merece, mas precisa ser registrada. Não pelo seu valor biográfico, que deve beirar a insignificância – a vida medíocre de um sociólogo almofadinha que nunca foi brilhante, cujos escritos são óbvios e pedantes; e que, após uma trajetória política sem grandes destaques (a não ser a ridícula derrota eleitoral para Jânio Quadros), moldada por uma suposta liderança, chega convenientemente à presidência da República, sustentado por uma campanha esmagadora que agregava toda os setores de elite e classe média do país, sem exceção, ao mesmo tempo em que encontrava um povão traumatizado por um impeachment e amaciado pelo plano Real, o que tornou a tarefa da eleição um mamão com açúcar.
A representatividade dessa eleição, e posterior reeleição, de FHC não pode ser esquecida. Principalmente, para que não cometamos um erro desse tipo novamente. Para que nunca mais elejamos um presidente tão elitista, hipócrita, vaidoso e egocêntrico, que tenta a todo custo se colocar no lugar de grande estadista. O que está tão longe de ser verdade – a ponto de ser opinião, inclusive, de muitos de seus correligionários.
E quem deveria bancar? Nada mais justo que aqueles que o elegeram: o povo brasileiro. Sim, dinheiro público (não sem limites, é claro). Trata-se de uma perda necessária. Sim, para fazer uma espécie de museuzinho com objetos pessoais e anotações de trabalho de Fernando Henrique. Um registro, portanto, extremamente positivista, ou seja, de enorme pobreza material. Um outro registro, que não desse tipo, é impossível, inconcebível. É isso que nosso ex-presidente merece. Que o tenha. O registro mais valioso, que é o que se instala no coração dos homens, isso ele não vai conseguir nunca.
Alguém poderia argumentar que o instituto de Fernando Henrique é um espaço totalmente privado e não disponível para o público, mas isso é outra questão – e certamente irrelevante. Antes de tudo, nunca ouvi falar de grandes filas de espera para que seja visitado. Que seja aberto à visitação apenas no dia em que uma grande multidão exija, ferozmente, nas ágoras, sua abertura.