O enigma PSOL
A poeira da mídia baixou um pouco, os vampiros mudaram a estratégia de ataque ao Governo Lula. Estão mais sutis, digamos assim - sabe-se lá por quanto tempo. Enquanto o próximo ataque não chega, podemos respirar e pensar um pouco sobre um tema desagradável, mas urgente.
O motivo pelo qual me dou ao trabalho de escrever este texto é o PSOL. Confesso ser esse um tema que me intriga e entristece, e por vezes também me confunde. Nas coisas da política, tenho o costume de julgar outras pessoas usando um critério bastante estrito e claro: a capacidade de interpretar, minimamente que seja, as exigências do momento presente, sem que para isso seja necessário que esqueçamos que em nosso horizonte sempre devem estar as transformações sociais de grande alcance, ou falando em Português claro, a Revolução. A Revolução não é ruptura brusca e amorfa, evento histórico supostamente inevitável; ela é construída pelos Homens em seu processo histórico, saibam eles ou não o que estão fazendo. A Queda da Bastilha não é a Revolução Francesa, os acontecimentos de Outubro de 1917 não são a Revolução Russa - esses eventos são parte de um processo, parte evidentemente com carga simbólica especial, mas parte. É preciso que saibamos assimilar as condições de possibilidade de nosso espaço e de nosso tempo - e, principalmente, de nossos homens.
Há exemplos e exemplos, mas podemos ficar aqui mesmo, pela nossa América. Vejam a Revolução Cubana, viva até hoje; vejam a Venezuela de Chávez. As condições históricas dessas duas experiências são absolutamente singulares no tempo, no espaço, nos seres humanos concretos envolvidos. Poucos quilometros de distância entre Havana e Caracas, mas como são diferentes as coisas que se pode ou não fazer! A natureza das resistências, as prioridades, os limites estruturais, o percurso histórico, os desejos do povo, tudo diferente, difícil de compreender. Se colocamos a Bolívia de Morales e o Brasil de Lula no caldeirão, as diferenças tornam-se ainda mais radicais.
O que quero dizer é: dessa perspectiva, a da capacidade de realizar a interpretação do momento presente e posicionar-se, não há outra alternativa senão julgar o PSOL como um partido reacionário de direita. Pelos posicionamentos concretos, inclusive discursivos, dentro da luta política brasileira, o que se vê é que o PSOL não quer enxergar a complexidade das relações de poder do país, mantendo-se numa posição messiânica e falso-moralista de caráter fortemente higienista (somos todos limpos! vocês é que se sujem na realidade!), não reconhecendo nenhum dos avanços do Governo Lula com relação ao Governo FHC, e negando-se a contribuir minimamente com o debate destinado a permitir a inflexão de um segundo governo cada vez mais para a esquerda. O PSOL me lembra, cada vez mais, uma das ótimas frases de Raul Seixas: "convence as paredes do quarto e dorme tranquilo, sabendo do fundo do peito que não era nada daquilo".
Essa posição, por si só, não os caracterizaria como um partido reacionário de direita; seria o PSOL somente uma reunião de esquerdistazinhos com medo de sujar as mãos na merda que é a realidade do exercício da política, com a consequencia, claro, de não fazer nada nunca, e portanto não errar nunca, para alimentar seus discursos bonitos e ineficazes - seriam os acadêmicos da política, digamos assim. Mas o buraco, aqui no Brasil, foi mais embaixo. Foi no momento em que os meios de comunicação brasileiros, aliados às elites nacionais, decidiram liderar uma campanha moralista contra o Governo Lula, com o intuito de recolocar as elites políticas tradicionais (PFL) e o neoliberalismo radical (PSDB) no comando novamente - foi neste momento, ao embarcar na onda, que o PSOL se colocou na mesma posição daqueles que supostamente combate; emprestou sua imagem "limpinha" ao jogo sujo da mídia e da direita, escolhendo como seu adversário mortal o Governo Lula e o PT, não percebendo que, nesse jogo, a vitória da mídiocracia seria a derrota, sabe-se lá por quanto tempo, de toda a esquerda e dos movimentos sociais. Mirou em Lula e atirou no próprio pé, com artilharia emprestada do inimigo. E, espero estar certo ao dizê-lo, felizmente errou o tiro.
Se Heloísa Helena, Babá, Luciana Genro, Chico Alencar e cia fossem a única coisa no PSOL, estaria tudo explicado, não haveria dúvida. Um misto de histeria e burrice, entremeados a um ódio ao PT, que nada mais é do que o avesso do amor patológico que tinham por sua antiga legenda. Mas há mais no PSOL do que essas figuras desprezíveis.
Há Francisco de Oliveira, Carlos Nelson Coutinho, Ricardo Antunes, até César Benjamin, futuro vice-candidato de HH, me parece um sujeito respeitável, apesar das besteiras que fala. Diante do passado que têm, não coloco em dúvida o comprometimento dessas figuras com o pensamento e prática da esquerda. É evidente que de boas intenções o inferno está cheio, mas não se trata aí de intenções; falo isso baseado no que concretamente fizeram e escreveram no passado. Que fazem eles no PSOL, e não do nosso lado, tentando abrir espaços de transformação social, com toda a dificuldade e eventual frustração que isso implica?
Talvez seja ingenuidade minha propor essa pergunta, mas realmente não sou capaz de dar a ela uma resposta satisfatória. Das duas, uma: ou minha leitura da situação política atual está completamente equivocada, ou há algo de imcompreensível na divisão das forças de esquerda num momento crucial como este.
O motivo pelo qual me dou ao trabalho de escrever este texto é o PSOL. Confesso ser esse um tema que me intriga e entristece, e por vezes também me confunde. Nas coisas da política, tenho o costume de julgar outras pessoas usando um critério bastante estrito e claro: a capacidade de interpretar, minimamente que seja, as exigências do momento presente, sem que para isso seja necessário que esqueçamos que em nosso horizonte sempre devem estar as transformações sociais de grande alcance, ou falando em Português claro, a Revolução. A Revolução não é ruptura brusca e amorfa, evento histórico supostamente inevitável; ela é construída pelos Homens em seu processo histórico, saibam eles ou não o que estão fazendo. A Queda da Bastilha não é a Revolução Francesa, os acontecimentos de Outubro de 1917 não são a Revolução Russa - esses eventos são parte de um processo, parte evidentemente com carga simbólica especial, mas parte. É preciso que saibamos assimilar as condições de possibilidade de nosso espaço e de nosso tempo - e, principalmente, de nossos homens.
Há exemplos e exemplos, mas podemos ficar aqui mesmo, pela nossa América. Vejam a Revolução Cubana, viva até hoje; vejam a Venezuela de Chávez. As condições históricas dessas duas experiências são absolutamente singulares no tempo, no espaço, nos seres humanos concretos envolvidos. Poucos quilometros de distância entre Havana e Caracas, mas como são diferentes as coisas que se pode ou não fazer! A natureza das resistências, as prioridades, os limites estruturais, o percurso histórico, os desejos do povo, tudo diferente, difícil de compreender. Se colocamos a Bolívia de Morales e o Brasil de Lula no caldeirão, as diferenças tornam-se ainda mais radicais.
O que quero dizer é: dessa perspectiva, a da capacidade de realizar a interpretação do momento presente e posicionar-se, não há outra alternativa senão julgar o PSOL como um partido reacionário de direita. Pelos posicionamentos concretos, inclusive discursivos, dentro da luta política brasileira, o que se vê é que o PSOL não quer enxergar a complexidade das relações de poder do país, mantendo-se numa posição messiânica e falso-moralista de caráter fortemente higienista (somos todos limpos! vocês é que se sujem na realidade!), não reconhecendo nenhum dos avanços do Governo Lula com relação ao Governo FHC, e negando-se a contribuir minimamente com o debate destinado a permitir a inflexão de um segundo governo cada vez mais para a esquerda. O PSOL me lembra, cada vez mais, uma das ótimas frases de Raul Seixas: "convence as paredes do quarto e dorme tranquilo, sabendo do fundo do peito que não era nada daquilo".
Essa posição, por si só, não os caracterizaria como um partido reacionário de direita; seria o PSOL somente uma reunião de esquerdistazinhos com medo de sujar as mãos na merda que é a realidade do exercício da política, com a consequencia, claro, de não fazer nada nunca, e portanto não errar nunca, para alimentar seus discursos bonitos e ineficazes - seriam os acadêmicos da política, digamos assim. Mas o buraco, aqui no Brasil, foi mais embaixo. Foi no momento em que os meios de comunicação brasileiros, aliados às elites nacionais, decidiram liderar uma campanha moralista contra o Governo Lula, com o intuito de recolocar as elites políticas tradicionais (PFL) e o neoliberalismo radical (PSDB) no comando novamente - foi neste momento, ao embarcar na onda, que o PSOL se colocou na mesma posição daqueles que supostamente combate; emprestou sua imagem "limpinha" ao jogo sujo da mídia e da direita, escolhendo como seu adversário mortal o Governo Lula e o PT, não percebendo que, nesse jogo, a vitória da mídiocracia seria a derrota, sabe-se lá por quanto tempo, de toda a esquerda e dos movimentos sociais. Mirou em Lula e atirou no próprio pé, com artilharia emprestada do inimigo. E, espero estar certo ao dizê-lo, felizmente errou o tiro.
Se Heloísa Helena, Babá, Luciana Genro, Chico Alencar e cia fossem a única coisa no PSOL, estaria tudo explicado, não haveria dúvida. Um misto de histeria e burrice, entremeados a um ódio ao PT, que nada mais é do que o avesso do amor patológico que tinham por sua antiga legenda. Mas há mais no PSOL do que essas figuras desprezíveis.
Há Francisco de Oliveira, Carlos Nelson Coutinho, Ricardo Antunes, até César Benjamin, futuro vice-candidato de HH, me parece um sujeito respeitável, apesar das besteiras que fala. Diante do passado que têm, não coloco em dúvida o comprometimento dessas figuras com o pensamento e prática da esquerda. É evidente que de boas intenções o inferno está cheio, mas não se trata aí de intenções; falo isso baseado no que concretamente fizeram e escreveram no passado. Que fazem eles no PSOL, e não do nosso lado, tentando abrir espaços de transformação social, com toda a dificuldade e eventual frustração que isso implica?
Talvez seja ingenuidade minha propor essa pergunta, mas realmente não sou capaz de dar a ela uma resposta satisfatória. Das duas, uma: ou minha leitura da situação política atual está completamente equivocada, ou há algo de imcompreensível na divisão das forças de esquerda num momento crucial como este.