segunda-feira, março 20, 2006

Filtro de Luta de Classes

"A luta de classes, que um historiador educado por Marx jamais perde de vista, é uma luta pelas coisas brutas e materiais, sem as quais não existem as refinadas e espirituais. Mas na luta de classes essas coisas espirituais não podem ser representadas como despojos atribuídos ao vencedor. Elas se manifestam nessa luta sob a forma da confiança, da coragem, do humor, da astúcia, da firmeza, e agem de longe, do fundo dos tempos. Elas questionarão sempre cada vitória dos dominadores. Assim como as flores dirigem sua corola para o sol, o passado, graças a um misterioso heliotropismo, tenta dirigir-se para o sol que se levanta no céu da história. O materialismo histórico deve ficar atento a essa transformação, a mais inaparente de todas".
Walter Benjamin
Confiança, coragem, humor, astúcia e firmeza: serão atitudes suficientes para resistir à imprensa brasileira? É certo que a História questionará qualquer vitória dos dominadores. Mas, supondo que isso seja possível, o que fazer para impedí-los de vencer?
A Luta de Classes está escancarada, na superfície.
Lula não é O Messias (não há O Messias!), faz o que é possível a ele e sua equipe fazerem, tanto no sentido estrutural quanto no pessoal. Obtém alguns resultados bastante satisfatórios e outros decepcionantes, estes últimos alardeados principalmente por aqueles que ora não compreendem os limites e complexidades do exercício da política, ora encontram ocasião para o gozo de seu preconceito de classe, e ora não percebem o perigo que representa contribuir com a candidatura Alckmin, mesmo que indiretamente.
Do outro lado do espectro, vemos a representação de tudo o que há de mais reacionário e conservador neste país. A neutralização da experiência venezuelana, a privatização do Estado, a criminalização dos movimentos sociais, a recusa à laicidade, o culto à propriedade privada, o racismo, a criminalização da pobreza, a TFP, a Opus Dei, o PFL, o Arena.
A mídia é o filtro dessa Luta de Classes. Ela tenta enfiar o fascismo goela abaixo do povo, promove transmutações morais milaborantes, semeando a confunsão entre os que nela depositam alguma confiança. Essa estratégia já deu certo algumas vezes ao longo da História.
E também já deu errado. Mesmo sabendo que toda a estrutura de construção de informações e de visibilidade das mesmas está com o inimigo, é preciso que tenhamos confiança, humor, coragem, astúcia e firmeza nessa luta.
Senão, com o que mais contaríamos?
Não há dúvida de que os meios de comunicação brasileiros já estão à altura da mídia venezuelana, golpistas de carteirinha. Resta saber se o povo brasileiro estará à altura do venezuelano, para resistir ao golpe.